Eles não tem olhos, mas enxerga perfeitamente!

5/13/20211 min read

Não sei como começar a escrever isso. Meus dedos ainda tremem.
Aconteceu ontem, ou talvez tenha sido hoje de madrugada… perdi a noção do tempo. Estava voltando da casa da minha tia, quando senti que algo estava errado. A rua era a mesma, mas parecia... esticada. Os postes não faziam mais sombra e até os cachorros, que sempre latem quando passo, ficaram quietos.

No início, pensei que era só cansaço. Mas então percebi aquele barulho. Não era um som alto, era quase imperceptível, como alguém mastigando devagar demais. O ar ficou pesado, e cada passo meu soava como um grito dentro da cabeça.

Foi aí que vi.
Ele estava no telhado da casa ao lado, parado, me observando.
Não se mexia, mas o vazio do rosto me sugava como um buraco. A boca — ou a caverna, não sei o que é aquilo — se abriu sem som, e um vento frio escapou de dentro, me cortando a pele.

Corri.
Não sei quanto tempo. Não sei se ainda estava no mesmo bairro. Só lembro que cada vez que olhava para trás, ele estava mais perto, mesmo sem mover as pernas. Era como se o mundo inteiro empurrasse ele até mim.

Me escondi no banheiro, trancada, tentando controlar a respiração.
Ouvia os pingos caindo, um a um, perto da porta. Mas não havia chuva lá fora.
Ele ficou ali. Esperando. Quando abri os olhos, já era manhã. Não sei se dormi, desmaiei ou se ele deixou que eu acordasse.
Mas sei que não acabou. Nunca acaba.

— Karla