O medo encontrou um corpo para habitar

5/16/20251 min read

Eu estava voltando para casa tarde da noite quando senti que não estava sozinho. Não havia vento, nem grilos, nem cães latindo. Só silêncio.
Foi então que ouvi — um barulho lento atrás de mim, como algo pesado sendo arrastado pelo chão. Eles sempre fazem barulho.

Eu não quis olhar. Não dessa vez. Acelerei o passo, mas os sons continuaram, sempre na mesma distância. Não importa o quanto eu andava, era como se ele também andasse — só um pouco mais perto.

Então tudo parou.

Eu senti primeiro. O frio. Começou nos pés e subiu pelas pernas, até doer dentro do peito. Minha respiração ficou curta e eu percebi que estava apavorado demais para me mover. Foi nesse instante que ele apareceu, saindo devagar da escuridão da estrada. A lua revelou só parte do corpo — brilhante, úmido, alto demais para ser humano. Ele se arrastava, como se cada movimento fosse deliberado, quase cuidadoso.

Não consegui segurar. Respirei fundo. Ele virou a cabeça na minha direção. Não vi olhos, só uma sombra mais escura onde o rosto deveria estar. Mas senti que ele me viu.

Fiquei parado. Não corri. Não falei. Só esperei.

E, no entanto, ele não avançou. Ficou ali, parado, até que o silêncio pareceu gritar no meu ouvido. Depois se virou e foi embora, devagar, como se tivesse perdido o interesse. Talvez tenha me poupado.
Ou talvez só tenha decidido me dar mais uma noite para pensar nele.

E pensar nele é o que mais o aproxima.